A represa da Fazenda Tudelândia foi construída para aproveitar a energia do ribeirão do Santíssimo, que nasce a cerca de dois quilômetros da área urbana de Santa Maria Madalena, na direção do trevo para Trajano de Morais. Este ribeirão vai desaguar no rio Grande, que se encontra a cerca de 10 quilômetros ao norte deste local.

Aqui o ribeirão do Santíssimo recebe um afluente, o ribeirão Vermelho, que você pode observar passando abaixo da ponte. O ribeirão Vermelho tem suas cabeceiras nas serras do Parque Estadual do Desengano (veja mapa).

Mapa Topográfico da região de Santa Maria Madalena.

Visite os demais Pontos de Interesse Geológico de Santa Maria Madalena – a Cidade da Geologia do Estado do Rio de Janeiro. Localização no mapa acima.

As Rochas da Tudelândia

As rochas que afloram em lajes e matacões neste local são as mesmas que ocorrem em quase todas as grandes montanhas da região, como a serra do Desengano e a Pedra Dubois. Portanto, se você conseguir identificar, nesta represa, as rochas que estão descritas nesta placa, estará conhecendo a constituição geológica desta bela região serrana.

O Biotita Granito-Gnaisse Porfirítico

A laje exposta na base da represa é constituída pelo Biotita Granito-Gnaisse Porfirítico. Se a rocha for observada com detalhe, pode-se perceber um grande número de minerais (cristais) tabulares, todos alinhados segundo uma determinada direção. Estes cristais são pórfiros de feldspato, um mineral comum na crosta terrestre. A abundância destes cristais dá origem ao termo “porfirítico” no nome da rocha. A parte mais escura da rocha, que se encontra entre os pórfiros, tem uma granulação menor, não sendo possível observar os cristais, mas com o auxílio de uma lupa, pode-se distinguir alguns minerais como a biotita, o quartzo e pequenos feldspatos.

Esta rocha tem a composição química e mineral equivalente a de um granito (*). Mas o alinhamento dos pórfiros de feldspatos, e outros sinais que só podem ser analisados ao microscópio, indicam que o granito, após a sua consolidação, sofreu transformações minerais e texturais. Estas propriedades classificam a rocha também como um gnaisse (**).

(*) Um granito é uma rocha ígnea, produto da consolidação do magma (líquido de rocha fundida semelhante à lava de um vulção) em profundidades que podem a chegar a dezenas de quilômetros. No interior da crosta terrestre, o resfriamento do magma é lento (alguns milhões de anos), o que proporciona um crescimento exagerado dos cristais (ou minerais) que se consolidam a partir do magma em fusão.

(**) O gnaisse é uma rocha metamórfica, o que significa dizer que é o produto de uma transformação geológica, em profundidade, de uma rocha anterior. Neste caso, a rocha que o precedeu era da família dos granitos. Durante a consolidação do granito, a crosta estava sofrendo tremendas pressões internas, causadas por choques de placas tectônicas (***). Estas pressões fizeram com que o líquido em consolidação se “amoldasse” nos espaços que sobravam entre as massas rochosas que colidiam. Esta moldagem é refletida no produto final do gnaisse através da orientação dos minerais em planos preferenciais na rocha.

(***) O movimento interno da Terra é conhecido como Tectônica de Placas.

O Charnockito

A maioria dos matacões que se pode verificar neste local, algumas lajes e, possivelmente, a Pedra da Barra, são constituídos por outro tipo de rocha: o Charnockito (figura 4). Esta rocha possui coloração esverdeada e os minerais que a constituem têm, aproximadamente, o mesmo tamanho. Com o auxílio de uma lupa de mão, pode-se ver minerais acastanhados e de formato prismático (piroxênio), envoltos por outros minerais de cor preta (anfibólio). A parte esverdeada da rocha é constituída por quartzo e feldspato (minerais comuns na Terra).

Figura 4.

Esta rocha tem uma origem semelhante àquela do granito. Difere deste último apenas nas condições em que o magma se formou. No caso do charnockito, acredita-se que a atuação de certos gases, como o gás carbônico, tenha gerado a coloração esverdeada da rocha e permitido a formação do piroxênio, mineral que não ocorre no granito

A PEDRA DA BARRA

Figura 2.

Antes de desaguar no córrego do Santíssimo, o ribeirão Vermelho corre no sopé de um gigantesco paredão de rocha com mais de 400 metros de altura: a Pedra da Barra (figura 2). O ponto mais alto da Pedra da Barra se encontra a cerca de 1050 metros de altitude em relação ao nível do mar. Este maciço rochoso faz parte da uma cadeia de montanhas que, mais a nordeste, vem formar as serras que estão incluídas no Parque Estadual do Desengano.

Os campos de matacões e os depósitos de encosta

No sopé da Pedra da Barra, você pode verificar que existem blocos de rocha espalhados pelas encostas sendo que sua maior concentração ocorre no vale do ribeirão Vermelho (figura 3). Estes enormes blocos de rocha (ou matacões) chegam a pesar mais de vinte toneladas. Alguns destes blocos, de menor tamanho, podem ser vistos na laje da represa.

Mas como se formam estes gigantescos blocos?

Mesmo com toda a força das águas em épocas de cheia, não é possível que a força do rio venha a mover dezenas de toneladas de rocha. Portanto, os matacões não se originam da erosão e transporte dos rios. A resposta está na própria observação da paisagem (figura 3). Os matacões se originam do desplacamento de rocha da escarpa da Pedra da Barra. Por isso eles se concentram nas proximidades do paredão. Os blocos caem em meio aos detritos que escorrem do topo rochoso durante a chuva (argilas, areias), e se acumulam no sopé do maciço rochoso. Estes depósitos são chamados de depósitos de encosta ou leques aluviais (alluvial fans, em inglês) ou, simplesmente, tálus. Os depósitos de encosta são, portanto, uma mistura de areias e argilas que contem matacões de rocha. Estes sedimentos se concentram próximo ao paredão rochosomas, com o acúmulo de sedimentos ao longo do tempo geológico, acabam se estendendo para a planície dos rios.

E como se formam os campos de matacões como aquele que se vê no vale do ribeirão Vermelho?

Compare o desenho da figura 3 com o que se pode ver na paisagem. Observe que os matacões se concentram somente no leito do rio e adjacências. Nas encostas eles são encontrados em menor número, aflorando em meio ao solo argiloso ou arenoso. Observe também que os depósitos de encosta atingem maior altitude longe do leito do rio. Há uma depressão onde corre a água. Estas feições indicam que, onde corre o ribeirão Vermelho, os depósitos de encosta foram parcialmente erodidos: o material argiloso e arenoso que recobria os matacões foi removido, restando apenas a parte rochosa dos blocos e a rocha nua onde eles foram depositados. Portanto, a erosão do rio expôs os blocos que estavam imersos em meio às argilas do depósito de encosta.

“A Terra levou alguns bilhões de anos para construir As rochas, os minerais, as montanhas e os oceanos. Proteja esta obra-prima!”

 

 

 

Quer aprender mais sobre o meio em que vivemos?

Placa 1: Resumo das placas explicativas sobre a geologia local.

Placa 2: Arqueologia em Santa Maria Madalena.

Placa 3: Ponto de Interesse Geológico – Pedra Dubois.

Você está na Placa 4.

Placa 5: Ponto de Interesse Geológico – Cachoeira do Escorrega.

Placa 6: Ponto de Interesse Geológico – Serra da Grama.